Paulo
Alentejano e Tássia Cordeiro
No
ano de 2011, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
lançou uma campanha de denúncia contra o fechamento de escolas no
campo brasileiro, denominada “Fechar escola é crime”, apontando
o fechamento de 24 mil escolas no campo, entre 2002 e 2010. Isso
correspondia ao fechamento de 3 mil escolas por ano, o que já era
uma barbaridade.
Infelizmente
a campanha não surtiu o efeito esperado, apesar da lei aprovada em
2013 que obrigou a realização de consulta às comunidades antes do
fechamento de escolas. Levantamento atualizado com base nos dados do
INEP sobre o número de estabelecimentos de ensino na Educação
Básica revela que entre 1997 e 2018 foram fechadas quase 80 mil
escolas no campo brasileiro, o que indica que escolas rurais seguiram
sendo fechadas em grande quantidade.
Tabela
1 - Número de estabelecimentos de ensino - Educação Básica
Ano
|
Total
|
Urbanos
|
Rurais
|
1997
|
225.520
|
87.921
|
137.599
|
2018
|
181.939
|
124.330
|
57.609
|
Diferença
|
-
43.581
|
+
36.409
|
-
79.990
|
Fonte:
Censo Escolar – INEP.
Assim,
não surpreende que os níveis de escolaridade no campo brasileiro
continuem sendo significativamente inferiores aos das áreas urbanas.
De acordo com o IBGE (PNAD, 2017) a taxa de analfabetismo no campo é
de 17,7%, contra 5,2% nas cidades. Já a escolaridade média é de
8,7 anos no campo e 11,6 nas cidades.
A
gravidade destes números por si só aponta para o absurdo de se
continuar fechando escolas no campo, mas infelizmente o fechamento de
escolas se transformou em prática generalizada no país, pois, só
três estados – Roraima, Amapá e Mato Grosso do Sul – abriram
mais escolas no campo que fecharam ao longo destes anos. Porém, o
problema é especialmente mais grave no Nordeste, onde foram fechadas
mais de 40 mil escolas, isto é mais da metade do total de escolas
fechadas no campo no país, sendo que a Bahia foi o estado que mais
fechou escolas no campo no período, com 12.815 mil escolas fechadas.
Vale
dizer que o fechamento de escolas não corresponde proporcionalmente
à redução das matrículas escolares, pois em 1997 havia 7.406.217
estudantes matriculados em escolas rurais e em 2018 esse número
diminuiu para 5.473.588, ou seja, uma redução da ordem de 26,1%,
bem inferior à taxa de 58% de fechamento de escolas rurais. Isso
significa dizer que foram fechadas, sobretudo, as menores escolas e
redistribuídos estudantes para as maiores, num processo conhecido
como nucleação. Uma das principais consequências disto é o
aumento do tempo de deslocamento das crianças até às escolas,
gerando mais cansaço e aumentando os riscos associados ao
deslocamento destas crianças entre casa e a escola.
Urge
dar um basta a esta prática sistemática de fechamento de escolas no
campo e mais do que nunca reafirmar: Fechar escola é crime!!!
Paulo
Alentejano – Professor do Departamento de Geografia da FFP/UERJ e
Coordenador do Grupo de Estudos, Pesquisas em Geografia Agrária –
GeoAgrária/FFP/UERJ.
Tássia
Cordeiro – Professora do Instituto Federal Fluminense e Doutoranda
do PPFH/UERJ.
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