segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Uma história de luta e uma perda

Claudineia Rodrigues
Agente Educacional I
Marines dos santos Rodrigues era uma criança quando saiu de Minga Porã Paraguai, sua terra-natal. Depois de algumas horas de viajem, finalmente ela desembarcou em Rio Bonito do Iguaçu com seus pais e uma irmã de 4 anos de idade. O pai agricultor natural do Paraná deixa sua cidade natal na esperança de achar novas oportunidades, uma vida melhor para sua família.
Acampou -se com a esposa, duas filhas e seus pais, atualmente moradores na Comunidade Nova Aliança, na Fazenda Pinhal Ralo próximo ao Rio Xagu, juntamente com outras famílias de 62 municípios diferentes, todas em busca de realizar um sonho um pedaço de terra um trabalho digno no campo e melhores condições de vida.
O tempo foi passando e os momentos difíceis chegaram o vento e a chuva forte que muitas das vezes rasgavam a lona dos barracos, a fumaça e o frio tomava conta da baixada a saúde das crianças estava sendo prejudicada, havia falta de remédios e alimentos, a discriminação com os companheiros sem-terra, a falta de humanidade e sensibilidade de algumas pessoas de fora do acampamento.
Época em que muitas pessoas não se colocavam no lugar do outro para imaginar como elas sofriam como elas sentiam, passou a ser normal a fome o frio a falta de dinheiro, o desrespeito das pessoas, a humilhação com as pessoas acampadas, a falta de solidariedade de pessoas desumanas que não sabe e nunca saberá o que é ser humano.
Marines e sua família havia sofrido o bastante, como se não bastasse tudo isso, num desses dias de início do inverno marines pegou uma gripe, foram alguns dias de remédios caseiros, xaropes para curar o resfriado. Porém a febre e os sintomas da gripe não passava. Seus pais Joel e Claudia preocupados com a saúde da filha foram para o posto de saúde municipal.
A pequena foi examinada por um médico do município e encaminhada para o hospital de laranjeiras do sul onde ficou internada 8 dias, recebendo medicação para tratar “uma forte gripe”. Mais como ela não apresentava melhoras seu pai pediu a transferência da filha para outro hospital. A princípio o hospital e o médico não queria dar transferência, mais depois de algumas discussões do pai nervoso, transferiram a criança para Guarapuava.
Chegando no hospital Santa Teresa o interno foi feito de imediato, o médico fez os exames, chamou os pais e explicou que o problema de Marines não era gripe os remédios tomados anteriormente não estava tratando da doença. As substâncias químicas liberadas na corrente sanguínea para combater uma infecção desencadeou em uma inflamação em todo corpo, foi contatado a presença de bactérias na corrente sanguínea, ela também tinha que passar por uma cirurgia intestinal urgente. Ela ficou mais dose dias internadas neste hospital mas o estado de saúde dela já estava avançado.
Não estava sendo fácil, o dinheiro estava acabando com as idas e vindas para Guarapuava, a mãe com a filha no hospital, o pai, os avós, tios, os amigos, companheiros e companheiras de luta torcendo para tudo dar certo e Marines voltar para casa todos demostrando força e um espirito positivo. Estavam confiante que depois da cirurgia do tratamento certo tudo ia ficar bem. Mais no fundo, um temor invadia o coração. Várias crianças já havia morrido, vários velórios já tinha assistido naquele barracão de lona. Crianças que eram levadas pelos seus pais para um tratamento médico hospitalar, na esperança de voltar para casa, mas não era o que acontecia, ficava somente lembranças e saudades eternas. Muitas famílias não suportaram tais perda e desistiram, mas quem ficou e lutou até o fim conseguiu um “pedaço de chão”.
No dia 05 de junho de 1996 a mais e temível terrível notícia, os coordenadores responsáveis por dar as notícias e avisos através de um microfone e uma caixa de som no acampamento, anunciaram por volta das 22:30 horas da noite que a pequena Marines dos Santos Rodrigues de apenas sete meses de idade tinha vindo a óbito. Foi desesperador para toda a família, seus pais no hospital já sabia que ela tinha falecido ás 20 horas no hospital Santa Teresa, mais o restante da família, avos, tios (as) e amigos(as) da família aguardava a qualquer momento a alta da pequena para poder pegar em seus braços matar a saudade desses 20 dias que ficou internada.
Fazem 23 anos que ela foi morar com o Papai do céu não foi feito o velório no barracão de lona preta. Muita burocracia e o corpo demorou pra chagar então foi feito só o enterro no cemitério municipal de Rio Bonito do Iguaçu, no dia 06 de junho de 1996. Essa lembrança esta viva em nossa memória, a esperança é de um dia reencontrar com ela, sabemos que essa é a Lei da vida nascer, viver e morrer. Mas ela não viveu foi cedo demais tinha tudo pela frente, sonhos que não chegaram a se concretizar.
Ficou saudades eternas, que aumentam a cada dia, as feridas da perda não cicatrizam, elas ardem e fazem as lagrimas vir no olhar. Mais em meio as tanta dor da falta que ela faz a fé religiosa consola o coração da família, minimiza, e faz segui-los em frente em outra direção. Seus pais não conseguiram ficar até o final para realizar o sonho de um pedaço de terra e uma vida melhor, desistiram depois de 2 anos de luta e voltaram para o Paraguai levando consigo as lembranças, as saudades e as lindas memórias de um ser inocente e tão especial.
26/06/2019


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